segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Carta de Intenções do GRITO (Grupo de Reflexão Independente pela Indignação, Transformação e Ousadia)

Entre outras decisões, foi acabada de aprovar no fim do 1º Encontro Nacional do Grito decorrido hoje no Entroncamento, com representação de elementos de Portalegre Aveiro Braga Lagos Lisboa Monção Barreiro Torres Vedras e Torres Novas a seguinte Carta Critica q passa a constituir-se como Documento base de referencia deste Grupo:

Documento de intenções do GRITO

OBS- Este é um grupo aberto a todos os cidadãos, de todos os quadrantes políticos ou religiosos, que se revejam nos princípios da Democracia e dos Direitos do Homem, mas sintam cansaço da generalizada incompetência com que temos sido governados, cansados destes repetidos protagonistas políticos e seus recorrentes insucessos na melhoria de condições de vida do Povo português.

Neste grupo devem rever-se ainda todos os que sejam a favor do mérito e da justiça social, contra os abusos de poder, o nepotismo, os salários e reformas faraónicas dos gestores públicos, as perdas de milhões por incúria, má gestão, deslizes orçamentais ou decisões erradas - tudo gastos pagos pelo contribuinte - bem como a deseducação, a insegurança, a falta de apoios à Cultura e à Investigação, numa palavra, a falta generalizada de horizontes e de Futuro para o Portugal moderno.

Assim, consideramos que:

1- Portugal é um País de referência no consenso das Nações e que, sem falsas e deslocadas xenofobias, nem patriotismos sem sentido, esta é uma Nação com novecentos anos, conhecida por ter viajado o Mundo; que descobriu caminhos, espalhou a sua Língua por todos os Continentes, construiu um Universo Lusófono de que soube sair, mantendo uma relação prioritária e de privilégio com os novos Países de expressão portuguesa, e conseguiu manter intacta, através dos tempos, uma vocação atlântica, plena de possibilidades e ainda hoje eixo de aproximações entre todos os povos.

2- Portugal foi também um país fundador da Nato e da UE. É importante compreender que o actual descalabro político e financeiro foi provocado por alguns governantes perdulários, por acumulados erros de gestão, pela própria crise europeia e mundial e por banqueiros criminosos e sem escrúpulos. Não seja agora atribuída essa responsabilidade, numa generalização económica sem sentido, ao Povo português - que é na sua generalidade trabalhador, cumpridor e ordeiro. Como tal, todos os portugueses sentem, eles próprios, a progressiva desqualificação do país enquanto parceiro europeu, como um gravoso insulto e uma humilhação injustificada.

Nós, povo português, não somos os nossos governantes.

3- O Estado “gestor” fracassou. Levou o país à bancarrota; disfarçada de forma engenhosa, com recurso a truques vários e empréstimos que levantam um dramático compromisso futuro.

Estes “governos” - não ignorando as responsabilidades de outras forças componentes do leque partidário, algumas delas através de alianças mais ou menos declaradas e duradouras – têm recorrentemente deslizado sempre entre dois partidos de um mesmo bloco central.

Este regime fechado e demasiado previsível, tem-se caracterizado também por um aflitivo desaproveitamento interno de oportunidades, das verbas subsidiadas pela CEE e da própria tributação nacional em ordem a prover as mais profundas necessidades nacionais.

Mais parece estarmos a assistir a uma competição sobre quem governa pior. São muitos milhões, gastos em estádios inúteis, estudos de projectos sem futuro, milhares de organismos supérfluos, cargos públicos pagos a peso de ouro, aeroportos entre o incompreensível (Beja) e o imprevisível (Alcochete), orçamentos sempre deslizantes, TGV’s e submarinos novos de necessidade muito questionável, numa desordem total, sem ninguém perceber como se pode governar assim um país.

Se o povo em geral, governasse as finanças da sua casa regulando-se por tal exemplo, há muito q as famílias portuguesas tinham falido e o respectivo responsável estaria preso.

4- A Saúde pública, a Segurança social, os abonos, as reformas atingem no seu âmago o Povo português, naqueles que menos se podem defender :- as crianças, os idosos e os doentes. Mas, se os Governos até hoje tivessem tido a coragem de:
a) baixar os seus próprios salários em toda a classe politica em geral,
b) diminuir o número de lugares na Assembleia da Republica e as mordomias dos deputados,
c) extinguir os milhares de Institutos públicos, municipais e privados sustentados pelo Estado, integrando-os nas áreas correspondentes dos Ministérios, Direcções gerais ou Câmaras a que deviam reportar,
d) acabar com as elevadas reformas de classe alta no Estado, Magistratura, Forças Armadas e outras; tendo em atenção que algumas são em duplicado e triplicado e criar um tecto de consenso e de crise a todas as reformas excessivas,
e) acabar com os gastos escandalosos pagos do erário publico em salários, assessorias, consultorias, bem como todas as empresas fantasma ou de out sourcing de amigos, criadas para fazer o trabalho que o Estado tem estruturas e pessoal para fazer,
f) controlar a actividade bancária e pôr os Bancos a pagar impostos, a que incompreensivelmente se furtam sob os mais prolixos e inverosímeis pretextos,
g) impedir a requalificação luxuosa de gabinetes próprios, impondo rigorosas medidas de controlo dos gastos; o mesmo em ofertas publicas a dignitários estrangeiros, controlando as visitas de Estado, e diminuindo o numero obsceno de consulados, embaixadas e seus embaixadores inúteis pelo Mundo fora
h) poupar em material bélico inútil, face à nova conflitualidade mundial - em que a guerra é hoje económica e financeira, e a ameaça de conflito convencional é reduzida - investindo menos em tanques e submarinos e mais em informação e inteligência face ao terrorismo.
i) fazer uma profunda Reforma Administrativa, cortando mais de metade das Câmaras Municipais e Juntas de freguesia, exigindo, por exemplo, um mínimo de 500 eleitores por Freguesia e de 5000 para cada Município
j) diminuir o número de seguranças, guardas costas pessoais, motoristas, secretárias, carros de estado e estafetas nos serviços de apoio a Ministros e Secretários e Subsecretários de Estado,
l) extinguir a figura bafienta e dispensável dos Governos Civis e integrar seus funcionários administrativos em Câmaras ou Ministérios; e os afectos a actividades práticas em serviços efectivamente úteis tipo Inem, Protecção Civil, Bombeiros.

…só, assim de repente, com estas medidas, já sobraria dinheiro para todos os pobres, doentes e crianças serem assistidos; sobraria dinheiro para um verdadeiro Serviço Publico de Saúde sem terem de ser fechados Centros de Saúde locais e as reformas não estariam a ser ameaçadas como estão.

5- No Ensino, além do fecho injustificado de muitas Escolas, implementou-se uma inversão de valores e prioridades no acto pedagógico. As justas reivindicações dos professores esbarram com uma complexa teia burocrática, que faz deles amanuenses de uma série de impressos e justificações, retirando tempo ao acto prioritário de ensinar, com subalternização do acto pedagógico às estatísticas, as quais se pretendem sempre de falso sucesso para mostrar um nível de instrução que na realidade não existe. Assim, sucede que o sistema promove e aprova sem mínimos qualitativos; o que permite, amiúde, que um licenciado não seja necessariamente uma pessoa que saiba sequer expressar-se em bom português falado e escrito. Aliás, aprovou-se um ridículo e desnecessário “acordo” ortográfico que descaracterizou a Língua, com cedências grotescas ao português falado no Brasil.

6- Desequilibrou-se ainda mais o país em estruturas ligadas à Cultura, com uma nítida diferenciação entre o interior e o litoral; as cidades e a denominada “província”. Não se apoiam nem garantem condições mínimas de dignidade aos Artistas portugueses, desde os artesãos, aos artistas profissionais de todas as artes. Todos eles, em vida, estão entregues à sua sorte, sem qualquer apoio, e quando chegam ao fim das suas carreiras, vêem-se sem reconhecimento, nem auxílio, nem muitas vezes capacidade de sobrevivência. Não é caso único. Ignora-se a circulação e educação cultural. Não se protege um dos bens maiores do país – o seu Património. O natural degrada-se; o Património histórico, muitas vezes ainda por inventariar, está em derrocada; o Património imaterial – o fado, as rusgas, os autos, os dialectos, as lendas, os instrumentos tradicionais, a tradição oral, etc., esse nem é considerado. Deparamos também com a necessidade de apoios condignos à Investigação, ao Desporto de alto rendimento, às Artes de palco, às ditas Belas-artes, à educação estética, às novas expressões de performance e de modernidade, com uma política de bolsas que só leva à fuga massiva de massa cinzenta e vocações, comprometendo o futuro da inteligência, da cultura, da arte e da sensibilidade em Portugal.

7- A Justiça no Estado português funciona lenta, com problemas estruturais graves, falta de interligação eficaz, incapacidade de resposta, complexa, prolixa e manietada num mundo de recursos e subterfúgios infindáveis, numa teia kafkiana, onde a culpa nos casos de dano público de raiz politica nunca acaba definida e as investigações sobre acidentes públicos, insucessos, obras que pararam ou foram mal lançadas, decisões erradas, projectos sem sentido, reposições por ganhos indevidos e até indemnizações de bancos ou do próprio Estado se tornam promissórias sem fundo nem crédito. A justiça fiscal é atrabiliária, aleatória, avaliadora grosseira e, quantas vezes, moralmente injusta. Não é invulgar perdoarem-se milhões a uma multinacional e confiscarem-se todos os bens a um insolvente por mil euros de dívida. As pequenas e médias firmas e empresários, entretanto, abrem falência, afogados em compromissos, as lojas e negócios fecham, o país parece estar todo para trespasse.

8- A classe política em geral, tratou de se colocar numa bitola salarial alta, com privilégios pessoais e sem transparência nem ética na aceitação de assessorias diversas e invulgares prebendas, totalmente divorciada duma relação realista com as dificuldades da Economia do país. Mantemos um Governador do Banco de Portugal mais bem pago da Europa, entre outros exemplos de autismo que o estatuto financeiro de muitos titulares de cargos face à realidade do sistema financeiro nacional parecem revelar.

As frotas oficiais são renovadas sempre com carros de gama alta, o número de seguranças e motoristas roça o impensável, e os gestores públicos são pagos principescamente, mesmo que as respectivas empresas apresentem os piores prejuízos. Quando tal má gestão se torna demasiado evidente, em vez de responsabilizados e investigados, são nomeados para outro cargo semelhante, onde espalharão mais do seu perfume de escandalosa incompetência - pago ainda e sempre pelo Povo português.

9- A classe política actual conduz-nos ciclicamente para expectativas sempre defraudadas, funcionando em circuito fechado de incompetências, com protagonistas repetidos, programas de governo decalcados, resultados invariavelmente desastrosos e um discurso recorrente de apelo ao sacrifício de quem menos culpa tem das crises – o Povo português.

Ao esmiuçar nas suas intimidades financeiras encontra-se um acervo incalculável de erros, abusos e desleixos, e tem ate hoje sido bafejada por uma impunidade de tipo corporativo. Julgamos, por isso, que terão de ser implementados mecanismos especialmente eficazes na detecção, combate e punição dos crimes praticados no exercício de funções públicas e de representação do Estado, com especial incidência nos crimes de nepotismo, lavagem de dinheiro, corrupção, gestão danosa, etc

10- Nisto nos revemos. Esta a nossa Carta Crítica da sociedade portuguesa. Esta a nossa perspectiva das coisas. É por estes valores que gritamos. Muitas mais minúcias poderíamos abordar, mas esta pretende-se uma análise generalista e não um programa de governo.

Somos, até ver, um grupo de reflexão. Não recuaremos se for necessário partir para a acção directa. Pela Indignação. Pela Transformação. Com Ousadia. Mas se, de alguma maneira, este sentir doente o nosso país o magoa tanto como a nós, propomos que junte os seus esforços ao nosso, para que, juntos possamos gritar bem alto as impunidades, injustiças, atropelos, escândalos, arbitrariedades e vergonhas que somos obrigados diariamente a engolir. Por isso queremos novos protagonistas. Por isso exigimos um outro Portugal dirigido por gente séria, proba, que preste contas do que gasta e por onde anda. Estes fracassaram. Tenham, pelo menos, a seriedade de o admitir e retirem-se rapidamente.

Queremos deixar de ter vergonha desta nomenclatura e deste Portugal.
GRITO
(Grupo de Reflexão Independente pela Indignação, Transformação e Ousadia)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

"um outro Estado q não este", Pedro Barroso

como homem livre e não alinhado a n ser pela Liberdade, lembro q os anos de "Estado novo", foram tempos tristes, escuros e muito amargos. O Estado "novo" tb nao foi solução nem para o prestigio, nem para a cultura, nem para o bem estar do povo português, nem para a sua liberdade e livre escolha. Viver nele foi o paradigma de censura e da falta total de democracia e de direitos humanos. Fomentou-se a iliteracia e o analfabetismo, ir de Lisboa a Bragança demorou-me um dia, tinha eu 20 anos, cerca de 14 horas; estradas eram poucas tortas e más; qqr ajuntamento era automaticamente proibido, irmão denunciava irmão, chegava a instalar-se a delação como modo de sobrevivência; as policias eram todo poderosas, bestiais e inimputáveis e as eleições eram uma farsa total.
Nesse Estado dito Novo, um grupo como o Grito estaria já extinto e enterrado e já estaríamos todos no Aljube ou em Caxias. A recente e romântica representação da era salazarista só convence quem a não viveu. O pais n participou na II GG mas Lisboa era um ninho imenso de espiões. E mais tarde durante muito tempo, a Europa verdadeira começava para lá dos Pirenéus. O jacobinismo teimoso de um ditador aferrolhava na gaveta e mantinha o pessoal na fome.

Na n historia devemos perceber os ciclos. A descompressao de Abril, foi um sol efemero e fugaz. Pouco tempo depois os cinzentos começaram a tomar os seus lugares estrategicos e fiorentinos. Hoje graças à pessima governação dos últimos 30 e tal anos, novos pequenos titeres abanaram a vaidade, encheram bolsos próprios e de amigos e instalaram de novo a emigração, o clientelismo, a fome o desespero.

Patria é uma palavra de amor, onde me choro e revejo sempre; sobretudo longe, sobretudo qd me falta o calor da felicidade e da justeza de viver e a sinto ferida e errada no voar.

A Família? ...bom... esse conceito mudou. Hoje vive-se sozinho, em apartamento dividido, em casalismo desalinhado e experimental, é-se adolescente ate aos 30 anos graças ao desemprego, entra-se e sai-se com outra velocidade das intimidades outrora tão sagradas, fixas e devotas. Mas claro q todos amamos os nossos embora o tempo de "viver e reunir família"..esse tenha quase desaparecido.

Deus pátria e família... eis pois, um conceito q nunca li do mesmo modo talvez q os outros. Mas ate aceito e percebo a sua sacralidade para os q ainda o tenham como emblema, se aqui se integrarem com o espírito livre e democrático de tb aceitarem os q aqui, neste Grito q levantamos, nao se revêem em Deus algum, em conceito fechado de família e apenas hoje em definitivo - e nisso estamos de acordo - vêm uma Pátria nua, descrente, ferida insultada e humilhada por reles agencias de rating internacionais e como moeda de troca de um passado quase milenar q nunca nos poderão sonegar.

E lá gritaremos juntos de novo pelo desemprego e pela fome, de novo por esta nossa renovada miséria de viver sob mais novos e elegantes tiranos, q fundam na mentira, na circulação rotativa de privilegios e num autismo governamenteiro o nosso fundo desprazer de estar aqui, assim de novo a ter de lutar por um outro "estado" q n seja nem novo nem velho mas renascido do grito q lançamos.
Pedro Barroso
in Facebook: GRITO - Grupo de Reflexão Independente Indignação, Transformação e Ousadia



 Jorge Carvalho
"Hoje vive-se sozinho, em apartamento dividido, em casalismo desalinhado e experimental, é-se adolescente ate aos 30 anos graças ao desemprego, entra-se e sai-se com outra velocidade das intimidades outrora tão sagradas, fixas e devotas." ...- como me revejo nestas palavras! Já passei dos 30, puto sem casa própria, a desejar "eternamente" constituir um casalinho experimental mas que já passou pelo entre e sai de relações mais que furiosas, sem devoção alguma. Será que cresci para ser assim ou não mais crescerei porque vivo aqui?

 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Grito, de Pedro Barroso

Amigos,

A sensação de incomodidade, de insatisfação e descontentamento tomou as rédeas do nosso quotidiano. Pelas tertúlias, nos cafés, ao almoço, nos locais de trabalho, nos transportes públicos, nas redes sociais, em família, em todas as estradas e tribunas da vida registamos um acabrunhado sentir, uma tristeza e amargura, uma revolta interior, uma sede de mudança.

É um epifenómeno normal, decorrente duma castração progressiva de ideais, de um sentir fugir a felicidade, de um cinzentismo galopante, de uma profunda sensação de vergonha do passado, humilhação e insegurança no presente e de enorme descrença no futuro.

Verifico, com alguma surpresa, que, apesar das mais díspares consciências cívicas e formações pessoais; apesar de todos nós termos necessariamente opiniões politicas diversas, opções de intervenção variadas e argumentos nem sempre convergentes, cresceu e se regista, não obstante, neste momento uma sintonia extraordinária na vontade de quebrar amarras.

E sente-se, afinal, uma abrangência enorme nas pessoas em relação a muitos pressupostos fundamentais - os da iniquidade que repudiam; da humilhação que não aceitam e da mudança que desejam. Todos começamos a sentir e ter consciência de que é urgente uma reflexão e intervenção cívica de grande alcance expressão e dignidade.

Chegamos ao fim da linha da tolerância e da paz social, fundada no eterno discurso do “sacrifício” sempre para os mesmos. Sobretudo por não vermos exemplos que nos cheguem de cima, nem da gestão catastrófica do Estado.

A Europa, não menos tremida nos seus alicerces sócio-económicos, rege os destinos e desígnios do nosso país.

Podíamos estar a discutir hoje com entusiasmo a Educação, o Progresso, a Investigação, a Arte, a Cultura, a Ciência e o avanço tecnológico e social. Em contrapartida, descobrimos temas que, ontem ainda, pouco julgariamos possiveis, como a incerteza da Segurança social, o agravamento das reformas, o descalabro do PIB, o problema do deficit, a dívida pública ou as classificações ditatoriais das agências de rating internacionais.

Todos sentimos no quadro relativo dos valores e pressupostos que nos oferecem no actual menu de oferta pública politica, o cansaço de um bafio ideológico, impregnado de velhos salitres, com protagonistas sempre repetidos, e sem vontade nem energia para mudar, autistas perante o sentir popular, acomodados em lugares bem pagos, circulando em redoma fechada, acumulando assessorias diversas e quantas vezes com sombras de corrupção e menos clareza no seu enriquecimento.

Raros surgimentos avulsos de algum inegável valor e grande generosidade, por falta de corpo, de organização e de sequencia, logo são ultrapassados pelo regresso à nomenclatura sempre dos mesmos, ou dos alternadamente mesmos.

Apetece-me muitas vezes soprar um novo halo de energia e generosidade. Com causas colectivas muito simples - pelo mérito, pela Ecologia, pela competência, pela requalificação do Ensino, contra os salários faraónicos dos gestores nas empresas do Estado, pela probidade dos homens públicos, pela Cultura em todas as suas vertentes, pelos desafios da modernidade, contra a corrupção. Por um pais orientado para o conhecimento e o futuro.

Numa palavra, por um novo Portugal, independente e orgulhoso de sua História, mais fraterno e solidário, reorganizado na Justiça, vocacionado para a responsabilidade, exigente na Educação, sem abusos bancários, nem injustiça fiscal; um país de paz e com gosto de viver.

Revejo-me num país sem tacanhez politica, com critérios claros e definidos das prioridades, com controlo orçamental das despesas públicas, sem luvas nas compras, sem redecoração sumptuosa de gabinetes e sobretudo com uma mentalidade de serviço nos titulares de cargos públicos. Sem reformas assombrosas, nem salários blindados; sem reconduções duvidosas, nem promoções por convites; sem nepotismos em circuito fechado, nem processos de averiguações sempre eternos e inconclusivos.

Revejo-me num outro orgulho português, que não aceita as receitas europeias de forma acéfala e as filtra pelo gosto e pela sensibilidade de uma lógica de um país com novecentos anos de viagens, valor e sobrevivência.

Revejo-me sem nacionalismos doentios, mas sem medo da palavra Pátria. E sem medo de consubstanciar a revolta surda que todos sentimos em acção cívica real, aceitando discutir caminhos para a clarificação das águas, dentro dos parâmetros da democracia participada, mas com o direito à indignação. Com direito ao sentimento de cansaço e a fazer todas as perguntas que se impõem, perante tão fracos artistas, que nos oferecem diariamente tão triste espectáculo de si mesmos.

Artistas da palavra vã, da promessa eterna, da circulação de cargos e da rotação de privilégios. Gente que, de alternativa em alternativa, nos vai prometendo sempre diferença, mas que nada muda, nada transforma e tudo empobrece.

Convido, pois, todos os homens e mulheres de bem, crentes ou não numa filosofia politica definida, desde que se revejam neste cansaço e nesta fome de outro viver, para que dêem corpo a uma força cívica de grande expressão, independente e generosa, franca e aberta, abrangente mas unida, que nos devolva a dignidade e o gosto de viver em Portugal.

Vamos pensar Portugal. Este que temos,... apodreceu e parou.

Queremos outro. Gritemos.

Viver aqui tem que poder ser MUITO MAIS que isto que nos estão a dar.

É urgente reunir forças e fabricar uma nova esperança.

O GRITO é preciso.
         GRITO - Grupo de Reflexão Independente Transformação e Ousadia
         por Pedro Barroso a Domingo, 30 de Janeiro de 2011 às 16:54.

         in Facebook